O LADO DA ESQUERDA QUE A DIREITA NÃO MOSTRA


O que acontece quando um governo procura ajudar a classe mais pobre e dar-lhe oportunidades de ascensão social? Ele é atacado e derrubado porque não representa os interesses da elite e da classe média. Mas ninguém diz abertamente “vamos derrubar esse político ou partido que está dando poder ao pobre”. Os incomodados buscam justificativas que tenham aceitação  popular, que convença até o próprio pobre a se deixar enganar. 


Lula não venceu as eleições presidenciais de 1989, além de outras duas seguintes, porque era um líder sindical, representava os trabalhadores e os pobres brasileiros. O que aconteceu com ele? Naquela época, os ricos tinham medo de que o líder dos pobres pudesse chegar ao poder e tomar empresas, instalar o socialismo/comunismo no país. As ideias provenientes da elite se espalharam pela mídia e caiu na mente da população, que decidiu “barrar o comunismo”. 


Mas o que aconteceu quando a esquerda chegou ao poder tempos depois? Os pobres e as minorias excluídas tiverem vez e voz. Muitos fazem piadas do tipo “se o Lula tirou milhões da pobreza por que você continua pobre?”. Analisemos essa questão. A esquerda no poder criou ou ampliou programas sociais que visavam tirar as pessoas da pobreza ou pelo menos dar um pouco de dignidade para os pobres. O filho do pobre passou a ter oportunidades para ingressar no ensino superior. Os negros e os indígenas conquistaram o direito a cotas. Quem passava fome conseguiu ajuda do governo para colocar comida na mesa. O proprietário rural conseguiu empréstimos para fortalecer a agricultura familiar, e com isso, a melhorar a renda. A empregada doméstica passa a ter direitos trabalhistas. 


Os recursos são escassos. E quem tem mais acesso a esses recursos são as classes abastadas, cujo papel é continuar a comandar o país e explorar os mais pobres. Assim faz a ricaça ao contratar uma empregada doméstica. A primeira vai trabalhar em serviço maneiro e bem remunerado, ao passo que a segunda irá para o trabalho manual e de baixa remuneração. Quando a esquerda obrigou os patrões a assinarem a carteira das domésticas, a esquerda foi repudiada. Isso porque uma empregada com carteira assinada não vai mais aguentar a exploração, vai ter os seus direitos garantidos por lei. “Os pobres ficaram metidos”, diziam os ricos indignados com os pobres que não aceitavam mais trabalhar como escravo.


As classes média e alta não se importam com quem está lá embaixo, que fazem parte da ralé, como diz o sociólogo Jessé Souza. Isso porque esse público privilegiado está protegido em seus bairros seguros e condomínios de luxo. Seus filhos estudam em boas escolas. Eles irão competir apenas com eles mesmos. O ideal é que os pobres continuem pobres para serem explorados pelos poderosos. 


Bolsonaro entrou em cena como o representante nacionalista da ordem e da moral. Investiu na ideia de  porta-voz dos cristãos, dos valores tradicionais. Que valores tradicionais são esses? São aqueles que se baseiam em uma “ordem” excludente que não funciona mais para a modernidade. A ordem que assegura privilégios de poucos e empurra os excluídos em uma competição desigual pelos recursos escassos. Ou seja, o pobre competir nos estudos e mercado de trabalho com os ricos. A ordem que mantém negros, indígenas e homossexuais silenciados. 


É fácil ser contra a união estável legal de homossexuais quando você não faz parte do grupo. É fácil criticar a política de cotas para negros, indígenas e deficientes quando você é um branco favorecido (ou de qualquer etnia desde que o sujeito tenha muita grana). É mais fácil apenas dizer “bandido bom é bandido morto” do que criar políticas de oportunidades para as populações mais carentes. O bandido pobre entra na bala ou no presídio. O bandido rico fica protegido. Há sempre a desculpa de que se os direitos são iguais, então não se deve privilegiar determinadas “etnias” através de cotas. Mas será se há igualdade na disputa por um espaço? Quando um pobre disputa com um rico, quem tem mais chances de ser bem sucedido na sociedade? 


Os escândalos de corrupção derrubaram o partido trabalhista (PT), mas o que realmente o derrubou foi o incômodo que os excluídos causou para a elite. A corrupção foi a desculpa que caiu como uma luva para tirar do poder o partido que mais se dedicou a diminuir as desigualdades sociais e o preconceito no Brasil.

O FENÔMENO SAMANTHA EM BARRA DO CORDA



 Se você era adolescente de 2004 a 2008, mais ou menos, em Barra do Corda, então você certamente foi impactado de alguma forma pelo fenômeno Samantha. Desconheço, na história de nossa cidade, pelo menos na primeira década do nosso século, algum jovem que tenha exercido tanto fascínio e influência como ela. Vivíamos a infância das redes sociais: Orkut, Flogão, MSN. Época de ouro das “lan houses”. 

A primeira vez que a vi eu me lembrei da personagem Elvira, do filme “Elvira, a Rainha das Trevas”. Para quem não conhece o filme, ele trata da chegada de uma mulher linda, estranha e com estilo gótico a uma pequena cidade, deixando os mais velhos e conservadores intrigados  e conquistando os jovens. Ela me lembrava também a cantora canadense Avril Lavigne, que surgiu no mercado mundial como uma adolescente diferente, estilo punk rock, contrariando a dominação do pop dançante e sensual de Britney Spears. 

Com seu visual diferente e hábitos esquisitos para a maioria das pessoas, Samantha tornara-se a garota mais intrigante de Barra do Corda. Trajando roupas pretas, de preferência vestidos e saias longos, botas e todos os artigos indispensáveis no armário de um gótico, ela chamava atenção por onde passava. Para completar o visual, maquiava-se com cores escuras. O lápis preto contornava seus olhos com tal intensidade que se tornavam persepitíveis de longe. A sombra e o batom também eram em tons  negros ou rubros. As cores escuras caiam bem no seu belo rosto, alongado, traços marcantes e a pele de seda. 

Sempre que eu a via sentia um certo nervosismo. Tinha vontade de me aproximar, mas ao mesmo tempo me sentia inseguro. Não sabia o que dizer. Eu a admirava tanto! Via em sua ousadia uma inspiração. Ela era o centro das atenções e não ligava para os julgamentos alheios. Na época eu tinha um espírito gótico, mas era muito tímido. A primeira vez que a gente trocou um “oi” foi em um show do ginásio do colégio Nossa Senhora de Fátima, creio que em 2006. Daí em diante, passamos a ter um certo contato, mas minha timidez criava um certo obstáculo para a amizade. Sempre que ouço “Cry for the Moon”, da banda gótica Epica ela me vem à mente. 

Palavras como fúnebre, sórdido, funesto, sombrio, morte, etc, não podiam faltar suas publicações. Como todo gótico, ela apreciava escuridão, cemitérios, rock pesado. Além disso, demonstrava um profundo desprezo pelo modismo e trivialidades da sociedade. 

Ela era unanime em Barra do Corda quando o assunto era mistério, esquisitice e polêmica. Todo mundo comentava a seu respeito. Boatos de que ela dormia em cemitério, bebia sangue, entre outros, corriam pelos quatro cantos da cidade. Sua beleza, aliada a seu estilo diferente e comportamento austero a tornaram muito famosa e copiada.

Vários adolescentes, de ambos os sexos, adotaram o estilo da garota rebelde. De uma ponta a outra da cidade viam-se forrozeiros caindo pro lado do rock. Todo mundo queria ser amigo dela. Todos a admiravam! 

Samantha passou uma temporada na Suíça, na casa dos avós paternos. Hoje mora em Paranavaí, Paraná, é enfermeira e mãe de três filhas. Não é muito de se expor nas redes sociais. Continua linda e com personalidade.





PRESIDENTE DUTRA CONQUISTA BARRA-CORDENSES



Fotos nas redes sociais de barra-cordenses “truando” em Presidente Dutra estão chamando atenção. E isso tem uma boa explicação. Um grande parque aquático, Parque das Garças, recém-inaugurado em Presidente Dutra tem conquistado a região do centro maranhense. Os barra-condenses têm aproveitado a curta distância, 100 km, para curtir uma diária por lá.

Muitos se perguntam: por que Barra do Corda não tem um parque aquático como Presidente Dutra? Acredito que haja uma explicação para isso. 

Barra do Corda possui rios e cachoeiras. Nossa cidade foi abençoada pela natureza, de forma que o barra-cordense, nos finais de semana, possui boas opções de lazer, como chácaras particulares na beira dos rios, e lugares públicos como a Beira Rio e Guaja, sendo estes últimos, uma boa fonte de renda para vários comerciantes. Além do mais, temos as belíssimas cachoeiras que representam um grande potencial turístico. 

Isso explica o desinteresse do setor privado de Barra do Corda, ou investimentos de fora, para a construção de um parque aquático aqui, visto que explorar um lugar nesse ramo que já tem “boas opções aquáticas naturais” não seja algo tão estimulante. 

Presidente Dutra acertou ao investir no empreendimento aquático. A população sentia necessidade de ter um lugar agradável para passar as manhãs e tardes dos fins de semana. De olho nessa carência, o setor privado entrou em ação e o resultado foi positivo, tanto para os moradores de Presidente Dutra quanto da região.  

Embora não seja um negócio tão atrativo para Barra do Corda devido às riquezas naturais, vamos torcer para que um empreendimento assim venha para somar, diversificar as opções de lazer para os barra-cordenses e turistas. 



NOTAS SOBRE A PANDEMIA, de Yuval Noah Harari

"Notas Sobre a Pandemia" é uma coletânea de textos e entrevistas do celebrado historiador Yuval Noah Harari sobre a pandemia do coronavírus e seus impactos, publicados em importantes veículos de comunicação como o The Guardian, Time e CNN. 

O livro contém apenas 97 páginas. Leitura rápida, crítica e reflexiva sobre esse momento conturbado e histórico que foi 2020. 

O primeiro texto do livro, "Na batalha Contra o Coronavírus, Faltam Líderes à Humanidade", Harari fala sobre nossa posição privilegiada para combater doenças, epidemias e pandemias, comparando com outras grandes que ocorreram no passado, mas faz severas críticas a muitos líderes mundiais que preferiram ficar culpando A ou B ao invés de agir a tempo. 

Em "O Mundo Depois do Coronavírus", o autor faz uma alerta em relação ao uso das tecnologias de monitoramento que podem ser usadas depois para propósitos políticos escusos, cerceando a liberdade e assumindo uma forma de autoritarismo. O historiador lamenta o fato de os Estados Unidos, por culpa do Trump,  ter deixado de ser liderança mundial nessa pandemia. 

No terceiro texto, "O Coronavírus Transformará Nossas Atitudes Diante da Morte? Muito Pelo Contrário", Harari trata da questão religiosa e espiritual do ser humano, alegando que a longevidade trazida pelo avanço científico deu mais tranquilidade para o ser humano e apego à vida, em contraposição ao que pregam as grandes religiões: que a pós-vida é o grande objetivo do ser humano. Antes as pessoas morriam em decorrência de doenças que hoje são curáveis. Hoje, de certa forma o ser humano vem adiando a morte. Embora houvesse muito  pânico e medo no começo, no que tange às mortes causadas pelo coronavírus, a população mundial, atualmente, vê na ciência uma esperança. 

Na entrevista sobre o tema "A Pior Epidemia em Cem Anos", o autor fala da gravidade da epidemia, mas expõe sua visão positiva em relação à rapidez no sequenciamento genético do vírus, a testagem de tratamentos e a agilidade para produzir a vacina. 

Nos dois Últimos "Lições de Pandemias Passadas e Alertas Para o Futuro" e "Toda Crise Também é uma Oportunidade" ele defende a importância da cooperação internacional no combate a epidemias para que estas não venham a se tornar pandemias.

Para você que deseja uma leitura rápida e reflexiva sobre o ano em que o mundo parou, recomendo o livro!

(Wennes Mota)

RAÍZES DO BRASIL, de Sérgio Buarque de Holanda

  Considerado um dos maiores clássicos da sociologia brasileira, "Raízes do Brasil", procura explicar as raízes os fundamentos da sociedade brasileira. Ele segue o paradigma do culturalismo, introduzida no Brasil por Glberto Freire, corrente contrária à tese pseudo-científica da hierarquização racial que predominou até o começo do século XX. O termo "raça" pressupõe um condicionamento biológico, onde negros, por exemplo, possuíam características herdadas que os tornavam inferiores aos brancos. O racismo baseado na diferença da cor da pele foi usado como legitimação da dominação dos brancos.

Gilberto Freyre, crítico da teoria racista, empregou o culturalismo para a busca de uma identidade brasileira, uma visão positiva do nosso povo, com sua mistura de raças vista como algo pacífico, harmonioso e como fator de enriquecimento cultural do nosso país. 

Sérgio Buarque de Holanda, embora se valendo do culturalismo, explica nossa identidade de maneira diferente. Para ele, as características do povo brasileiro é determinada pela herança personalista dos portugueses, bem como o patriarcalismo e o patrimonialismo, tendo como resultado, uma nação de pessoas emotivas, que não sabe separar o público do privado. 

Quem somos? Porque nosso país continua cheio de contrastes? Por que o brasileiro tem uma “marca” diferenciada? O livro responde essas questões, que são importantes para entender o povo brasileiro, com seus defeitos e qualidades. 

Segundo Sérgio Buarque, a forma de colonização portuguesa, a sociedade patriarcal e o personalismo ditaram os rumos do ser e do agir do brasileiro. Os portugueses trataram o Brasil com certo desleixo. Queriam apenas explorar e levar embora as riquezas naturais. Não queriam investimentos e nem esforços, por isso as grandes propriedades e a escravidão (sistema desumano e que agravou as desigualdades sociais) eram importantes (nada de cidades, escolas, manufatura). Esse desleixo se dá até na plantação de cana de açúcar, que fora plantada de forma rudimentar, sem técnicas adequadas. Já começamos com sementes do atraso. 

Os portugueses eram flexíveis. Ao invés de impor regras rígidas, eles acabaram, de certa forma, se adaptando aos índios e aos negros. Essa flexibilidade não significa um caráter justo e humano por parte dos colonizadores, mas apenas um esforço a menos para lidar com a dominação de um vasto território. 

Na era colonial, a sociedade patriarcal influenciou a formação de ser e agir do brasileiro. Naquela época, o senhor rural dominava uma vasta propriedade, onde detinha a autoridade e o poder absoluto sobre a esposa, filhos, trabalhadores, agregados e escravos. Nesse caso, as relações eram de parentesco, havia uma inclinação à questão afetiva. 

Quando as cidades passaram a crescer e ganhar certa importância (visto que a propriedade rural era o centro da vida social na era colonial), os grandes proprietários rurais e seus filhos foram os que dominaram as áreas urbanas. Com isso, da esfera privada (lar) levaram para o público (cidade) as relações afetivas que imperavam nas grandes propriedades. Não é à toa que os primeiros presidentes do Brasil representavam os grandes fazendeiros. Era a república do café com leite, que terminou em 1930. 

Essa dificuldade em diferenciar o público do privado é um defeito que até hoje os brasileiros possuem. Um funcionário público privilegia um amigo ou parente, o político dá prioridade para a família e os eleitores. Isso se manifesta desde aquela ficha que se pega para não enfrentar fila até grandes escândalos de corrupção. O brasileiro, ao se colocar em primeiro lugar, personalismo, no espaço público, despreza a população em geral para satisfazer os mais próximos. 

Até a religião se adaptou bem aos trópicos. O catolicismo, embora tenham regras e dogmas, nunca foram muitos respeitados pelos fiéis. É comum alguém que se considera católico sair para festas, ingerir bebida alcoólica, entre outras coisas. Há uma certa aversão à obediência a regras rígidas. A “queda” do brasileiro por concurso público é uma forma de buscar estabilidade que, uma vez conquistada, evita muitos esforços, como em diversos outros empregos. 

O brasileiro é “cordial”, caloroso, humano, mas essas qualidades acabam tornando-o propenso ao personalismo e à corrupção. 

A visão da sociedade brasileira atribuída por Sérgio Buarque empurra a culpa dos problemas brasileiros para o próprio povo e o Estado. Essa visão ainda predomina hoje no Brasil, mas há muitos críticos que a contestam veementemente, como o sociólogo Jessé Souza, pois, segundo ele, mantém o povo preso em uma mentalidade preconceituosa e inferiorizada, deixando oculta a verdadeira face do mal do brasileiro, que ele discorre em seu livro “A Elite do Atraso”. 

(Wennes Mota)

POEMA: E SE...

 E se no lugar do se 

Nos pegássemos nus, 

O mais mataria o mas 

Sem medo de calar cem línguas. 


Nós vamos fazer os nós? 

Entrelaçar as linhas, nossos dedos entrelaçar? 

Não dê poder ao não! 

Faz assim, diz sim pra mim! 

(Wennes Mota, 5 de julho de 2020)

OPOSIÇÃO EM BARRA DO CORDA


A democracia nos garante a liberdade de escolher nossos candidatos e também nos concede o privilégio de cobrar, criticar aqueles que estão no poder. A oposição é importante para a manutenção das conquistas e direitos democráticos, mas será se sabemos usar bem esses poderes? 


Vivemos em uma democracia, contamos com o apoio de instituições sólidas que nos garantem direitos, mas infelizmente grande parte da nossa população ainda sofre com o atraso educacional, cultural e moral que nos dominam há séculos. 


Hoje todos temos direito de participar ativamente da vida política e liberdade de expressão. Com a popularização das redes sociais temos voz e vez. Mas será que usamos isso de forma consciente e responsável, para o bem coletivo?


É comum o brasileiro, e no nosso caso, o barra-cordense, criticar os políticos. Mas nós enquanto cidadãos, estamos agindo como verdadeiros cidadãos? Todos sabemos que o político é o espelho do povo. Então se tem coisas erradas na política é porque ela já sai do nosso meio, é parte de nós. 


Toda oposição, quando responsável, tem o poder de, através de críticas justas, melhorar uma gestão que está no comando. Mas como o ser humano é movido por paixões, pelo ego, ambição, conveniências, o papel de muitas pessoas dentro de uma oposição acaba se transformando em projeto de derrubada de poder a qualquer custo. 


O problema não é cobrar e criticar. A questão é a forma como fazemos isso. Que palavras utilizamos, quais os argumentos, qual o nível de entendimento do crítico, seu grau de responsabilidade e sua tolerância. Em nossa cidade basta analisar várias discussões nas redes sociais ou um bate papo em bares, na rua, etc para notarmos muita falta de consciência e conhecimento. 


Criticar significa conhecer algo e, ao notar-lhe defeitos, cobrar ou sugerir melhorias, de forma educada. É isso que faz um cidadão crítico e isso ajuda muito na melhoria da cidade, do estado, do país. Que pena que são poucos! Pessoas ignorantes, guiadas por conveniência ou outros motivos investem em xingamentos, cobram a todo momento de forma exagerada, desrespeitam a opinião dos outros, usam deboches ao invés de argumentos.


Há pessoas especializadas em postar diariamente defeitos em uma administração, e quando elas chegam ao poder, silenciam. Isso, infelizmente, é normal, faz parte do ser humano. A função dessas pessoas é impregnar o inconsciente coletivo com determinada ideologia suja, um projeto de desmoralização da imagem de uma pessoa, instituição, partido, etc. 


Políticos realmente compromissados apenas com o bem comum é raro porque é raro encontrar, no Brasil, lugares onde a população esteja em um nível socioeconômico-cultural e moral elevado. Barra do Corda está longe desse privilégio. Estamos presos em um atraso enraizado em várias áreas que nos empurram para a conveniência, a ignorância, troca de favores, paixões cegas.


Nossa vizinha, a cidade de Tuntum, há muito tempo não tinha uma oposição forte. Como resultado disso, nossos vizinhos tiveram atrasos no pagamento de salários, concurso público feito à força, com poucas vagas, demora para chamar os aprovados e um gestor e seu grupo se perpetuando no poder. Aqui em Barra do Corda temos dois grupos opostos fortes, e isso é ótimo porque um ensina o outro a não exagerar nos erros. O barra-cordense vem seguindo a ideia de alternância. A cada oito anos, no máximo, a população experimenta o lado oposto.


As grandes cobranças que a oposição fez nesses oito anos de gestão espero que não silenciem. Gostei da atuação do Ministério Público em Barra do Corda nesse período, que fiscalizou o concurso público, que obrigou o prefeito a realizar contratações através de seletivos, entre outras coisas. Espero que os mesmos vereadores tão atuantes e críticos continuem cobrando e que o Ministério Público continue tão eficiente. Que as pessoas cobrem com responsabilidade e respeito  quando necessário. Dessa forma, quem ganha é a população.

(Wennes Mota)

O PERSONALISMO NA POLÍTICA EM BARRA DO CORDA



A troca de gestão é marcada, entre outros fatos, pela corrida de eleitores que, tendo apoiado o candidato eleito, exigem a sua parte: uma vaga no serviço público na forma de contrato. Isso é normal nas cidades pequenas do Brasil, em especial no nordeste. Barra do Corda, longe de ser uma exceção, tem nesse hábito uma importância gigantesca na decisão política. Calma, não é culpa do prefeito Rigo Teles e nem dos ex-prefeitos Éric Costa, Nenzin, Avelar Sampaio, Darcy Terceiro, Elizeu Freitas... Mas de onde vem essa troca de favores tão intensa?


Um dos maiores fatores que empurram o barra-condense para o envolvimento pessoal e emocional nas campanhas eleitorais e subsequente recompensa é a falta de oportunidades. Nossa cidade, embora tenha aumentado, mas de forma lenta, os postos de trabalho no setor de prestação de serviços e negócios, continua tendo a prefeitura como uma das mais almejadas fontes de trabalho. Para isso não se exige tanto esforços acadêmicos: basta “amizade”. Estamos tão próximos dos nossos políticos que, ou somos conhecidos ou amigos, ou então conhecemos alguém que é “chegado” deles.


Em “Raizes do Brasil”, um dos maiores clássicos da sociologia brasileira, Sérgio Buarque de Holanda procura expor e analisar as raizes, os fundamentos que contribuíram para a formação da sociedade brasileira. Quem somos? Porque nosso país continua cheio de contrastes? Por que o brasileiro tem uma “marca” diferenciada? O livro responde essas questões, que são importantes para entender o povo brasileiro, com seus defeitos e qualidades. 


Segundo Sérgio Buarque, a forma de colonização portuguesa, a sociedade patriarcal e o personalismo ditaram os rumos do ser e do agir do brasileiro. Os portugueses trataram o Brasil com certo desleixo. Queriam apenas explorar e levar embora as riquezas naturais. Não queriam investimentos e nem esforços, por isso as grandes propriedades e a escravidão (sistema desumano e que agravou as desigualdades sociais) eram importantes (nada de cidades, escolas, manufatura). Esse desleixo se dá até na plantação de cana de açúcar, que fora plantada de forma rudimentar, sem técnicas adequadas. Já começamos com sementes do atraso. 


Os portugueses eram flexíveis. Ao invés de impor regras rígidas, eles acabaram, de certa forma, se adaptando aos índios e aos negros. Essa flexibilidade não significa um caráter justo e humano por parte dos colonizadores, mas apenas um esforço a menos para lidar com a dominação de um vasto território. 


Na era colonial, a sociedade patriarcal influenciou a formação de ser e agir do brasileiro. Naquela época, o senhor rural dominava uma vasta propriedade, onde detinha a autoridade e o poder absoluto sobre a esposa, filhos, trabalhadores, agregados e escravos. Nesse caso, as relações eram de parentesco, havia uma inclinação à questão afetiva. 


Quando as cidades passaram a crescer e ganhar certa importância (visto que a propriedade rural era o centro da vida social na era colonial), os grandes proprietários rurais e seus filhos foram os que dominaram as áreas urbanas. Com isso, da esfera privada (lar) levaram para o público (cidade) as relações afetivas que imperavam nas grandes propriedades. Não é à toa que os primeiros presidentes do Brasil representavam os grandes fazendeiros. Era a república do café com leite, que terminou em 1930. 


Essa dificuldade em diferenciar o público do privado é um defeito que até hoje os brasileiros possuem. Um funcionário público privilegia um amigo ou parente, o político dá prioridade para a família e os eleitores. Isso se manifesta desde aquela ficha que se pega para não enfrentar fila até grandes escândalos de corrupção. O brasileiro, ao se colocar em primeiro lugar, personalismo, no espaço público, despreza a população em geral para satisfazer os mais próximos. 


Aqui em Barra do Corda vemos isso nitidamente o tempo todo. Um cidadão ouvindo som em alto volume fora de hora sem se preocupar com o vizinho. Nesse caso, a vontade particular, ouvir o som a todo volume, é mais importante do que o direito do outro, o de viver em um local onde exige-se silêncio. É comum o brasileiro adotar a postura de pensamento coletivo apenas quando forças coercitivas entram em ação, como a polícia.


Até a religião se adaptou bem aos trópicos. O catolicismo, embora tenham regras e dogmas, nunca foram muitos respeitados pelos fiéis. É comum alguém que se considera católico sair para festas, ingerir bebida alcoólica, entre outras coisas. Há uma certa aversão à obediência a regras rígidas. A “queda” do brasileiro por concurso público é uma forma de buscar estabilidade que, uma vez conquistada, evita muitos esforços, como em diversos outros empregos. 


O brasileiro é “cordial”, caloroso, humano, mas ao mesmo tempo, é irresponsável ao agir de forma particular diante de situações que exijam objetividade e imparcialidade nas questões coletivas. O barra-cordense faz parte desse sistema, e até se destaca.  Superar esses entraves para que sejamos mais civilizados exige uma reflexão individual e coletiva, uma educação com uma visão crítica dos nossos defeitos particulares e sociais como busca de superação e aprimoramento, lutas por um país mais justo. Enquanto isso, as trocas de favores na vida social e política continuarão, bem como o desrespeito ao próximo. 

(Wennes Mota)

Governo Bolsonaro por um fio


Até pouco tempo o presidente Bolsonaro, aos trancos e barrancos, estava conduzindo o país com uma boa aceitação, mas agora a crise econômica, panelaço, ameaça de impeachment e uma provável iminente greve dos caminheiros tem colocado o presidente em maus lençóis. 


A pandemia desestabilizou vários governos. Em maior ou menor grau, isso afetou a política em 2020. Trump caiu. Alguns prefeitos não conseguiram se reeleger ou não conseguiram fazer sucessores. O mesmo problema ameaça o atual presidente. Com a pandemia, temos a recessão econômica. E se a economia vai mal, a população não perdoa. Um dos principais motivos em relação à popularidade do presidente durante o caos provocado pelo novo coronavirus deu-se em decorrência do auxílio emergencial, medida inevitável e obrigatória de ajuda direta aos mais afetados economicamente. 


A reeleição do presidente estava praticamente garantida. Mas agora a situação vem tomando rumos diferentes. As próximas semanas e meses serão cruciais para que ele supere ou intensifique essa onda de pessimismo que ronda o país. O desempenho da gestão em 2021 e no começo do próximo ano será o fator decisivo para o resultado das próximas eleições. 


Em diversos momentos durante a pandemia o presidente tem tratado a difícil situação de forma polêmica, como discursos irresponsáveis, a subestimação do vírus, o não uso de máscara e até uma queda por teorias da conspiração. Em um momento conturbado como esse o país precisa de um presidente que aponte soluções, confortando a população, ao invés de causar divisões. 


O mesmo “sistema” que aplicou golpes no país, que vem promovendo a corrupção invisível, que derrubou Dilma agora ameaça Bolsonaro. Esse sistema, denunciado no livro de Jessé Souza, “A Elite do Atraso” (depois falarei desse livro), influencia a mídia que, por sua vez, consciente ou inconscientemente, alimenta e amplia falsas ideias na mentalidade popular. 


É comum a direita acusar a mídia de tendenciosa e sensacionalista. Alguns grupos de comunicação são realmente irresponsáveis, filtrando o que deve ser dito e investigado para alimentar o “sistema”. Isso aconteceu com a esquerda no poder, que também se reclamava de “perseguição” por parte da imprensa, sobretudo nos escândalos do Mensalão e Lava-jato amplamente divulgados. Irresponsável ou não, a maior parte da imprensa ainda cumpre seu importante papel, mesmo que seja patrocinada por ideias dominantes que mantém a riqueza nas mãos de poucos. 


O vento que derrubou Trump agora ameaça Bolsonaro. Se quiser se reeleger, o presidente precisará mudar um pouco seus discursos e apresentar melhores soluções. Dizer que o país está quebrado (e de fato está, em decorrência da pandemia e suas consequências) não é a melhor saída. 

(Wennes Mota)