AS VÍTIMAS ALGOZES, de Joaquim Manoel de Macedo

 




Em “As Vítimas Algozes”, Joaquim Manoel de Macedo condena a escravidão, mostrando seus efeitos maléficos para a sociedade.

A obra é dividida em três partes, três estórias diferentes, mas cada uma tendo personagens escravos como principais e sendo vitimas e ao mesmo tempo algozes, como é bem definido pelo título.

A escravidão é denunciada como uma atividade desumana e aviltante que produz, na maioria dos escravos, ódio e sede de vingança. Segundo o autor, não se pode esperar bondade e gratidão por parte do escravo, por mais que não seja tratado como violência, por mais que tenha patrões “bondosos”, o simples fato de ser escravo, de não ter direitos, de estar preso a trabalhos estafantes e não ter a dignidade de um cidadão, são raros os escravos que não se revoltam com sua condição degradante.

Ao longo da obra o autor deixa claro, e repete, como lição de moral, e ainda contendo cada uma conclusão bem explícita onde se condena a escravidão e a exposição dos motivos para tais condenações. Essa obra servia como alerta para mostrar para os senhores brancos e a sociedade os perigos que corriam por insistirem na escravidão. Libertar os escravos seria a melhor forma de se evitar grandes infortúnios e desastres como os que são narrados nesse romance bem escrito e de denúncia social. Leitura prazerosa e reflexiva. Personagens bem escritos, coerentes e convincentes. Prepare-se, você vai odiar Lucinda e vai sentir pena e ao mesmo tempo raiva de Cândida. Segue abaixo um resumo das três estórias do livro.

I – Simeão, o Crioulo

Simeão é um escravo que cresce sendo favorecido pelos seus senhores, Domingos Caetano e Angélica, criado e amado como um filho durante a infância. Isso porque, ao nascer Florinda, filha dos senhores, não podendo Angélica amamentá-la, conta com os peitos de uma escrava, que também tivera filho, Simeão, há pouco tempo, amamentando assim, os dois, que se tornam irmãos colaços (de leite). Poucos anos depois com a morte da escrava, os senhores passam a cuidar de Simeão como filho.

Mas quando Simeão chega à adolescência percebe-se como escravo. Por mais que tenha sido bem tratado pelos seus donos, continua sendo escravo. Muitos escravos jogavam isso em sua cara, aumentando-lhe a cólera.

Em uma venda perto a fazenda, onde se encontram escravos, ex-escravos e vadios, Simeão conhece um bandido, conhecido como Barbudo, e nasce entre eles uma amizade leal.

Florinda casa-se com Hermano, filho do lavrador vizinho. Com a morte de Domingos Caetano, tencionando ganhar a liberdade e roubar o dinheiro da família, Simeão arma uma emboscada em casa e, com a ajuda de Barbudo e outros capangas, matam todos da casa. A lição é: por mais que se trata bem um escravo ele pode se voltar contra os senhores, e estes não o podem acusar de ingrato, porque a escravidão em si é a culpada por produzir ódio e vingança.

 

II – Pai-Raiol, o Feiticeiro

Muitos escravos conheciam raízes, folhas e plantas alucinógenas e venenosas que, juntamente com rituais tribais, se aproveitavam desses conhecimentos para se declararem feiticeiros, como forma de amedrontar muitas pessoas e conquistarem um certo prestígio.

Pai-Raiol é um escravo feio, fisicamente deformado. Mostra-se inofensivo, calado e trabalhador, mas que provoca grandes estragos por onde passa. Ele e sua companheira, a crioula Esméria, a quem tem como amante por medo e conveniência, são comprados por Paulo Borges.

Pai-Raiol mata vários animais envenenados e chega a atear fogo na plantação e em todas essas ocasiões ele apresentava soluções que o tornavam valorizado aos olhos do seu senhor.

Esméria é convidada para trabalhar na cozinha a pedido de dona Teresa, esposa de Paulo Borges. O feiticeiro convence Esméria a seduzir o senhor, o que o faz e em pouco tempo toma o lugar da senhora, passando a tratar suas ex-companheiras escravas como inferiores.

Esméria, profundamente decepcionada, passa a viver apenas para os três filhos, passando o dia e a noite trancada em um cômodo para não ver o marido e escrava traiçoeira. O feiticeiro então convence Esméria a envenenar aos poucos a comida de Teresa, que e pouco tempo morre envenenada. Tempos depois, o envenenamento também leva os filhos para a morte e a ruina da família de Paulo Borges.

Pai-Raiol ordena a Esméria que mate o senhor também, mas esta, conhecendo os planos do feiticeiro, sabendo que ele queria comandar a fazenda ao seu lado, controla-la, decide contar com a ajuda do tio Alberto, um escravo alto e musculoso como Hércules, com quem Esméria també mante um romance ardente, para assassinar Pai-Raiol.

Esméria, ao maltratar uma criada, esta, vinga-se daquela revelando todas as suas maldades para o senhor Paulo Borges. Tomando conhecimento da emboscada que Esméria e o tio Alberto estavam preparando para matar o feiticeiro, Paulo Borges, com o auxílio da criada, assistem ao assassinato às escondidas. Por fim, ordena que capangas prendam Esméria. A lição de moral é: enquanto houver escravidão haverá escravas para se oferecer para o senhor e destruir o lar.

 

III – Lucinda, a Mucama

Florêncio da Silva é um rico comerciante, esposo de Leonídia e pai de Liberato e Cândida. Plácido Rodrigues é um rico fazendeiro, cujo filho, Frederico, fora amamentado por Leonídia, já que sua mãe havia morrido de parto. A amizade dos pais era unida ainda mais pelos laços quase familiares. Frederico e Liberato são os melhores amigos, estudaram juntos a vida inteira e cultivam uma amizade com amor fraterno. Frederico é irmão de leite de Cândida. As duas famílias são a favor da união entre os irmãos de leite.

Cândida, infelizmente, ganha de presente de seu padrinho, Plácido Rodrigues, Lucinda, uma mucama perversa que, com suas opiniões vis, maldosas e pérfidas opiniões, corrompe a pureza da pobre moça.

Lucinda incentiva Cândida a ter namorados antes do casamento, e a ajuda a ter um relacionamento escandaloso, as escondidas, com um francês, que no final se revela um sujeito criminoso e pobre.

Por sorte, a reputação de Cândida, que havia perdido a virgindade para o francês, só é salva por casa da bondade e do amor de Frederico, que a aceita como esposa. Lição de moral: uma mucama escrava pode arrastar para a lama a reputação de uma senhora-moça.

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