Em “Minha Formação”,
Joaquim Nabuco narra os eventos mais importantes de sua vida, suas referências,
influências intelectuais, experiências no exterior, contatos com pessoas
poderosas e contribuição para a política brasileira.
Joaquim Nabuco foi um dos
maiores defensores da abolição da escravatura, usou seu poder como deputado
para defender a causa. Liberal, cosmopolita, intelectual e preocupado com o
país, não hesitou em criticar a estrutura socio-econômica da qual era
beneficiado.
Suas experiências no
exterior reforçaram seus ideais políticos. Mantivera contato com pessoas
poderosas e influentes em diversos país como Inglaterra, França (1873-1874),
Estados Unidos (1876-1877), além de ter
tido um encontro com o papa Leão XIII, em 1888, no Vaticano, pedindo apoio para
a libertação dos escravos, visto que o poder da maior autoridade da religião
católica entre os católicos era incontestável.
Nabuco foi um político
brilhante, de ideias, que percorria o mundo em busca de conhecimentos para que
pudesse aplicá-los no Brasil. Esteve sempre em defesa dos escravos, o que
considera sua maior contribuição para o país. Declarava que o Brasil
continuaria a ter uma herança negativa da escravidão como caraterística nacional
por muito tempo.
Erudito, de apreciador da
literatura e das artes, passou para o ato criativo, chegando a escrever um
livro de poemas em francês, “Amour et Dieu”, língua que considerava a sua fonte de cultura.
Apesar de elogiado por alguns sábios da França, Nabuco reconhecia suas
deficiências nas artes. Seu interesse pela política era de um caráter universal
e humanitário. Gostava das boas discussões que visavam solucionar os problemas,
e detestava as paixões políticas partidárias e de conveniências que atrasavam o
país.
Foi um político atuante e
sábio que conquistou liberais e conservadores, e que até hoje conquista adeptos
da esquerda e da direita. Essa versatilidade se dá por causa de sua postura de
revolucionário conversador, a união de vários traços políticos, sem se prender
a um lado de forma radical. Como liberal, era defensor da libertação dos
escravos, a distribuição de terras, a integração do negro na sociedade. Seu lado
conservador era notório pela sua defesa da monarquia parlamentarista e das
instituições sociais que funcionavam e garantiam ordem. Para ele, a conquista
de liberdades deveria ser para o bem estar comum e não para estabelecer
anarquia, portanto, qualquer ato de mudança no sentido liberal deveria ser
sensato.
Sua maior referência
política foi Bagehot, cuja obra “A Constituição Inglesa’ se trata de uma defesa
da constituição e da monarquia inglesas. Em sua mocidade via tanto a monarquia
quanto o republicanismo com bons olhos até resolver visitar a Inglaterra, para
analisar o sistema político de lá, e os Estados Unidos, para conferir de perto
o republicanismo, tão debatido na época. Essas experiências lhe reforçaram
ainda mais a sua defesa da monarquia, por causa da estabilidade e do respeito
de que gozavam as instituições da monarquia inglesa, ao passo que o
republicanismo nos Estados Unidos causa confusões e divisões a cada quatro
anos, além de instituições não tão sólidas como as da Inglaterra.
Foi um grande admirador
da cultura francesa, da rigidez inglesa e do progresso, liberdade e
superioridade material dos americanos. Sua carreira política, como parlamentar
ocorreu entre 1879 a 1889.
Nabuco cita vários amigos
e parlamentares importantes na luta pela abolição, como André Rebouças e Gusmão
Lobo. Tece elogios ao seu pai, grande influência política em sua vida, o barão de
Tautphoeus, um estrangeiro intelectual, apaixonado pela natureza brasileira.
Narra acontecimentos de sua infância na fazenda Massangana, onde cultivou os
sentimentos fraternos para com os escravos, semente de sua luta política.
Impossível terminar de
ler o livro e não se tornar um grande admirador desse cidadão, político e
intelectual brasileiro. Alimentamos o desejo de reavaliar a nossa própria formação,
as nossas referências intelectuais, as nossas atitudes como brasileiros e a
esperança de encontrarmos políticos com esse caráter, erudição, sapiência e
espírito humanitário, bem como cidadãos que admirem e valorizem tais qualidades
em um homem público. Com bons políticos, que amam o país, e não apenas presos às
conveniências políticas, aos interesses próprios e ao ego, e cidadãos críticos que
não vendem sua consciência poderemos ter um Brasil realmente mais justo e mais
livre. Vivam os Nabucos da vida e que eles se multipliquem por este vasto território!
(Wennes Mota)
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