Escrito em forma de diálogos
entre Teodoro, Sócrates, um Estrangeiro e Teeteto, a obra procura responder a uma pergunta: o que
é o sofista? Para isso, o personagem Platão utiliza a dialética, o método filosófico
que ficou conhecido com as produções de Platão, que é uma troca de ideias, de
forma hierarquizada, produzindo contradições, com o intuito de, através da
razão, superar o conhecimento irracional.
O personagem Teodoro apresenta o
Estrangeiro a Sócrates, que pede ao Estrangeiro que escolha alguém para debater
o assunto. O escolhido é Teeteto. Sócrates quer saber como denominam sofista,
político e filósofo na terra do Estrangeiro, se são classificados em um só
grupo ou em dois, ou um gênero para cada.
O Estrangeiro propõe a Teeteto
discutirem acerca do sofista. Orienta o interlocutor dizendo que, por se tratar
de um tema difícil, comecem com temas menores e mais fáceis para chegarem aos
mais difíceis. Para tal, escolhe o pescador como ponto de partida: o pescador é
um artista ou um sujeito carecente de arte?
Ao mencionar a arte, procura
reduzi-la a duas espécies: agricultura e imitação. Depois, subdivide a arte em produtivas e
aquisitiva; a aquisitiva, por sua vez, em
troca e arte da captura; esta última em luta e caça. A caça é classificada em
duas: caça a objetos sem vida e caça aos seres animados (animais). A caça aos
animais se subdivide em: animais que andam na terra (marchadores) e nadadores. A
caça pode ser realizada por meio de cercados (cercar os animais com alguma
coisa que os impeça de fugir) e golpeamento da vítima.
Nessa primeira etapa usando um
método de divisões, oposições, o Estrangeiro, guiando Teeteto, tenta classificar
o sofista. A conclusão que chega nesse momento é que o pescador e o sofista são
ambos da arte aquisitiva; o primeiro busca na água, o segundo, na terra.
Prossegue-se a discussão acerca
da caça aos marchantes, que se subdividem em domesticados e selvagens.
Acrescenta ainda uma outra divisão para a caça: uma, violenta, e a outra, a
arte da persuasão. A arte da persuasão também tem sua divisão: caça particular
e caça pública. A caça particular se dá mediante o pagamento metade com salário
e metade com presentes. Nesse momento, chaga-se a mais uma conclusão a respeito
do sofista: faz parte da aquisição do negócio de mercadorias da alma relativo
aos discursos, aos conhecimentos e à virtude política, vendendo esses
conhecimentos por ele mesmo fabricados ou comprados.
Em relação à luta, o Estrangeiro
defende que ocorre de forma violenta (corpo a corpo) ou entrechoque de
discursos (controvérsia). A controvérsia se subdivide em forense (jurídica) ou
contenda.
O Estrangeiro prossegue com o modelo
de oposições investigando a arte de separar, purificar (corpo e alma), espécies
de maldade, tipo de ignorância. Nesse ponto apresenta artes adequadas para o aprimoramento
da alma (instrução) e para o corpo (ginástica para a fealdade, e medicina para
a doença). Outras oposições investigadas são mimética (arte de copiar e
imitativa), arte criadora (divina e humana), arte dos simulacros, arte da
mímica.
Até aqui, conclui-se que o
sofista possui um conhecimento aparente sobre todos os assuntos, não o
verdadeiro conhecimento. Compara o sofista a um ilusionista, imitador das realidades
e inclinados a acreditar que possui o conhecimento verdadeiro, quando na
verdade é apenas um imitador ilusionista.
A parte confusa e cansativa dos
diálogos se dá na altura da metade da obra, nas discussões sobre o que é o ser
e o não-ser, o uno e o todo.
Procura ainda explicar o
discurso, opinião, pensamento e imaginação para indicar a falsidade. Aqui tenta
enquadrar o sofista no grupo daqueles que imitam, e não dos que realmente
pensam.
Na parte final da obra, o
Estrangeiro resume tudo para chegar à conclusão sobre o sofista:
“Sendo assim, a espécie imitativa
e suscitadora de contradições da parte dissimuladora da arte baseada na
opinião, pertencente ao gênero imaginário que se prende à arte ilusória da
produção de imagens, criação humana, não divina, desse malabarismo ilusório com
palavras: quem afirmar que é de semelhante sangue e dessa estirpe que provém o
verdadeiro sofista, só dirá, como parece, a pura verdade”.
Percebe-se que a obra procura desqualificar
o sofista, que vende seus conhecimentos como se fossem verdadeiros. É
interessante ver na prática a dialética sendo aplicada. O livro é curto, mas
exige atenção, raciocínio e paciência. Não é uma leitura tão prazerosa, mas de
análise e exploração dos conhecimentos. Podemos adaptar até certo ponto a
dialética para os nossos discursos a fim de conhecermos melhor a nós mesmos, os
outros e o mundo.
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