AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA



Um livro que deveria ser lido por todos os latino americanos para que possam entender melhor a dimensão da exploração negativa e desumana à qual fomos submetidos durante séculos e que ainda hoje sentimos os efeitos de toda essa dominação perversa.

Trata-se de uma obra crítica e reveladora, que procura mostrar detalhes que a História não mostra. Abre os nossos olhos em reação às causas do nosso subdesenvolvimento, abrindo espaço para reflexões que nos levem a buscar novos caminhos, evitando os erros do passado.

O livro divide-se em duas partes: a primeira, “a pobreza do Homem como resultado da riqueza da terra”, aborda a exploração das riquezas das nossas terras, produção agrícola (principalmente açúcar, algodão, café), e de minérios e pedras preciosas, às custas do trabalho escravo dos índios e negros trazidos da África. Portugal, no Brasil, e Espanha, no resto da América Latina, implantaram a monocultura e o latifúndio com o objetivo único de explorar essas vastas terras apenas para a exportação. Nascemos como exportadores de matérias-primas e nos impuseram a impossibilidade de ter um mercado interno e uma manufatura nacional. A Inglaterra logo tomou de conta desta vasta região, pois Espanha e Portugal lhes eram submissas. O ouro e a prata extraídos do Brasil, bem como os lucros com os produtos agrícolas financiaram a revolução industrial da Inglaterra que, a partir de então, liberou os portos da América Latina para implantar o livre-comércio, uma forma de vender seus produtos industrializados de forma desigual, trazendo prejuízos para a região explorada e evitando o nascimento de nossas indústrias. Interessante notar que a abolição da escravidão foi incentivada pela Inglaterra apenas por interesses próprios, pois precisava-se de trabalho assalariado para comprar seus produtos. O autor, Eduardo Galeano, ressalta que a nossa riqueza foi a nossa maldição, pois cada ciclo de prosperidade econômica, assim que se esvaia, deixava um rastro de pobreza. Assim aconteceu com o açúcar no Nordeste, que era a região mais rica e hoje é a mais pobre. Com a descoberta do ouro e diamante em Minas Gerais, a capital passa de Salvador para o Rio de Janeiro. Depois do ouro veio o café. Outros exemplos são as explorações de prata em Potosí que, em sua era de prosperidade, havia luxo, e depois que a mina secou, veio a desgraça e o abandono.

A segunda parte trata da dominação da América Latina, primeiro pela Inglaterra no âmbito da Revolução Industrial, e depois dos Estados Unidos, com suas multinacionais. Os países latino-americanos continuaram a ser meros exportadores de matérias-primas e importadores de produtos industrializados, de forma que nossos produtos eram baratos e os deles, caros. As estradas e ferrovias aqui construídas pela Inglaterra e Estados Unidos não foram feitas com a intenção de ligar as regiões, povoá-las e desenvolvê-las. A intenção era apenas facilitar o acesso das fontes das matérias-primas até os portos. O livre comércio foi um negócio negativo que favoreceu ainda mais nossa dependência. O livro também mostra a forma como os Estados Unidos nasceram e se desenvolveram, diferente a América Latina, onde era proibido adotar o protecionismo, sendo o mesmo usado pelos Estados Unidos.

Quando os Estados Unidos perceberam o potencial de nossas industrias crescerem, invadiram nossos países com suas multinacionais, derrubando as concorrentes locais. Com as multinacionais vieram os bancos estrangeiros para financiamentos dos quais o país ficaria cada vez mais dependente da economia americana. O latifúndio empurrou muitos cidadãos para as cidades em busca de emprego na indústria. Resultado: cidades cresceram de forma desordenada, multiplicando a pobreza.

Os Estados Unidos apoiaram e até financiaram a chegada de ditadores ao poder nos países latino-americanos como forma de evitar que governos nacionalistas promovessem reforma agrária e dessem concretude a projetos de desenvolvimento nacional que não satisfaziam seus interesses imperialistas. A ditadura no Brasil, por exemplo, elevou nossa dívida externa, facilitou a entrada de grandes empresas norte-americanas, privatizações, o que nos mantinham reféns das mãos dos grandes capitalistas do norte.

As Veias Abertas da América Latina é um livro útil, reflexivo, esclarecedor, mas que deve ser lido com cuidado. É fácil sentir revolta com tudo que nos foi imposto ao longo de séculos de exploração, mas não podemos olhar com ódio as nações que nos exploraram,  (e que, com menos intensidade, ainda nos exploram), porque qualquer nação que estivesse no lugar de grandes impérios capitalistas como a Inglaterra e Estados Unidos, fariam o mesmo. Infelizmente, são obras do capitalismo que, embora seja o melhor sistema de organização econômica, também tem seus defeitos, mas que nas mãos de pessoas altamente ambiciosas, egoístas e maldosas, torna-se uma arma de extermínio. Deve ler As Veias para conhecer melhor as raízes do nosso subdesenvolvimento, conhecer detalhes das atrocidades e buscar caminhos diferentes para o nosso tão sonhado desenvolvimento. Precisamos estacar a sangria.

 

O livro traz detalhes tristes e revoltantes das formas com as quais os indígenas foram expulsos, escravizados, explorados, maltratados, assassinados.

 

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