Em “O Livro da Sua Vida” (editora Cultrix, 230 páginas), Osho faz severas críticas às religiões organizadas, como o Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo, Budismo, etc, e incentiva o ser humano a cultivar uma religião própria, fruto de um mergulho em seu interior, reforçado pela consciência e meditação, como forma de se libertar de dogmas que limitam a vida.
No prefácio o autor defende uma nova espiritualidade, baseada na rebelião individual, ao invés de uma revolução política, porque na primeira você muda a si mesmo para mudar o mundo, e a segunda, que é produzida pela sociedade, apenas dita regras para grupos sociais, mas não mudam o ser humano individualmente. Para ele, Jesus, Buda, Gandhi e Zaratuatra são exemplos de rebeldes.
Cada capítulo do livro aborda os assuntos em forma de dicotomias:
MUNDANO VERSUS EXTRAMUNDANO
O Ocidente conheceu um progresso científico que tem ofuscado a religião, ao passo que o Oriente tem se mantido preso às religiões. O materialismo ocidental provocou uma crise espiritual no homem, e a religião no Oriente impede o crescimento do ser humano rumo à libertação dos dogmas. Osho propõe uma solução: que o homem seja “Zorba, o Buda”. O que isso significa? Zorba foi um grego devotado ao sensual, ao material, mundano. Buda negou este mundo material para se aprofundar espiritualmente, abandonando sua fortuna e partindo para uma jornada de simplicidade e limitações materiais. Osho defende que sejamos os dois ao mesmo tempo: aproveitar os prazeres da Terra e cuidar do lado espiritual, acabar com a divisão entre matéria e espírito.
Para o autor, a religião passa por muitas fases. A primeira fase é a mágica, baseada em rituais mágicos de sacrifício para os deuses, como fazem os aborígenes primitivos. A segunda fase é a pseudo-religião: Hinduísmo, Cristianismo - elas mudam você através de dogmas, não é um ritual, é uma filosofia de vida. A repressão é usada como forma de controle, de escravização. O ser humano se divide entre bem e mal, proibido e permitido, condenam o sexo, a arte etc. A última é a religião científica, a verdadeira, que busca libertar o indivíduo.
Quando a pobreza exterior encontra a pobreza interior há um falso contentamento. Quando a riqueza exterior encontra riqueza interior há harmonia. Muitas religiões impõem uma vida de sacrifícios, de limitações, exaltam a pobreza como forma de o ser humano ser recompensado na outra vida
CRENÇA VERSUS EXPERIÊNCIA
A ciência explora o mundo objetivo e a religião explora o mundo subjetivo. Todas as religiões são contra a dúvida, porque a dúvida faz perguntas e busca respostas, e isso destrói as religiões, pois são baseadas em crenças. A verdadeira religião não exige fé, exige vivência. A fé é o suicídio da inteligência. O autor critica os condicionamentos que a sociedade impõe as crianças.
LÍDER VERSUS SEGUIDOR
Os líderes religiosos têm poder sobre os homens porque representam Deus. Eliminando Deus e as religiões os homens passam a ser livres. Mas ao eliminá-los, fica um vazio, e esse vazio deve ser preenchido com a verdadeira religião, usando o consciente e a meditação. Há muita hipocrisia entre religiosos. Muitos se apegam à religião para serem bem vistos diante da sociedade, serem aceitos por uma grande comunidade.
CONSCIÊNCIA VERSUS VOZ DA CONSCIÊNCIA
A voz da consciência é uma fotografia, e a consciência é um espelho que sempre muda o que reflete. A voz da consciência é o que a sociedade impõe, a consciência vem de dentro de você. A voz da consciência divide, a consciência une. A meditação é uma maneira de descartar a voz da consciência e mergulhar na consciência. A religião divide o homem para amedrontá-lo e escravizá-lo.
Osho fala sobre a diferença entre controle e disciplina. O primeiro é imposto pela força, leis, dogmas, a disciplina é fruto de um interior consciente, organizado. Devemos produzir respostas ao invés de reação, porque a reação é condicionada, mecânica, e a resposta é sempre espontânea e muda de contexto.
SIGNIFICADO E SIGNIFICÂNCIA
A vida não tem significado, a pessoa tem de criá-lo. As religiões dão um significado à vida e isso conforma o homem. Mas ao abandonar a crença, para não ficar desesperado, o homem precisa buscar um sentido, uma confiança que só seu interior consciente pode fornecer.
Grandes intelectuais como Feuerbach, Nietzsche, Marx e outros combateram as religiões, mas eles não se aprofundaram interiormente, vivendo, desse modo, em desespero.
MINHA OPINIÃO
Gostei de algumas críticas que ele faz sobre as religiões, sobre a hipocrisia de muitos religiosos, sobre os condicionamentos que nos aprisionam. Tenho buscado uma espiritualidade interior que eu possa conciliar com meu lado cristão, uma forma de eu manter minha fé mas ao mesmo tempo buscar viver uma vida que me permita ter dúvidas, buscar respostas, não me limitar a certos dogmas. O livro me despertou mais interesse ainda na busca do meu lado interior, em uma espiritualidade consciente e natural. Discordo de muitos pontos do autor ao longo da obra. Em alguns momentos demonstra conhecimento superficial, redundante em alguns trechos e muitas generalizações que empobrecem certas explicações. Usarei algumas dicas para melhorar minha espiritualidade mas de forma a se harmonizar com meu lado cristão. O autor provoca reflexões, mas não me convenceu a abandonar minha religião.
(Wennes Mota)
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