O NEGRO NO BRASIL

O Negro no Brasil (editora Objetiva, 166 páginas, 2012) é uma obra organizada por Carolina Vianna Dantas, Hebe Mattos e Martha Abreu que aborda a história, situação e luta dos negros ao longo da história brasileira.

 O livro se divide em duas partes, na primeira contendo dez textos de pesquisadores acadêmicos sobre o tema, em ordem histórica cronológica. A segunda parte compõe-se de dois textos,  ambos de Hebe Mattos e Martha Abreu. No primeiro, elas fazem uma análise sobre as Diretrizes para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. O segundo texto aborda a questão dos remanescentes das comunidades dos quilombos.

O livro é escrito de forma simples e fácil de ler, com várias sugestões de referência para se aprofundar nos temas. É marcado por uma perspectiva interessante e diferente ao trazer para o centro da discussão uma visão mais crítica em relação ao negro, sua contribuição e, sobretudo, informações acerca do que aconteceu com ele depois da abolição da escravatura. Como o negro vivia durante as primeiras décadas do período republicano? Quais foram suas lutas? Os negros foram heróis resistentes ou vítimas? São essas as perguntas que o livro procura responder, além de incentivar os leitores, professores e pesquisadores a conhecerem com mais detalhe a situação do negro, investigando melhor a história, que ainda apresenta muitas lacunas. 

RESUMO

O TRÁFICO DE ESCRAVOS E A ESCRAVIDÃO NEGRA NA AMÉRICA PORTUGUESA

O tráfico atlântico teve início no século XV e perdurou até meados do século XIX. Essa longa duração foi resultado dos seguintes fatores: poderio político e militar dos países europeus, interesses econômicos na escravidão no Novo Mundo, auxílio de algumas elites militares e econômicas africanas que ajudavam na tarefa da escravidão.

No século XVI, a colonização da América portuguesa foi totalmente dependente da escravidão indígena que, por diversas razões, foi se tornando impraticável, daí a necessidade de escravos africanos, que já dominavam a colônia no século XVII.

Na escravidão no Mundo Antigo, os escravos eram de etnias diferentes e tinham funções variadas, e geralmente seus filhos se tornavam livres. Na América, a escravidão baseou-se na questão racial, inferiorizando negros e índios e explorando-os em massa de forma desumana.

ESCRAVIDÃO E ALFORRIA NA AMÉRICA PORTUGUESA

Para Caio Prado Junior, a colonização portuguesa atendia aos interesses do capital mercantil europeu, a economia deveria ser orientada para a exportação de mercadoria, e para isso necessitava de muita mão de obra barata.

Alguns autores defendem a ideia de que a demanda da produção interna, não só a externa, também necessitava de mão de obra escrava.

Muitos autores defendem que a escravidão no Brasil não foi uniforme. Havia diferenças regionais. Muitos senhores permitiam que os escravos pudessem cultivar outros produtos agrícolas para sua própria subsistência.

O trabalho escravo também era difundido nas áreas urbanas. Muitos escravos ofereciam seus serviços para que os contratasse, e no final do dia, repartia os ganhos com seus senhores. Com a descoberta do ouro, houve um intenso aumento da presença de escravos na região sudeste, que trabalhavam agora em uma economia mais diversificada.

A população brasileira no final do período colonial era bem diversificada. Aproximadamente 38% de escravos, 28% de negros e mulatos livres, 28% de brancos e 6% indígenas. Os escravos que nasciam no Brasil eram chamados de crioulos.

Apesar da maior parte dos escravos terem pouca probabilidade de conseguir a liberdade, a alforria no Brasil era mais comum do que em outras regiões escravistas. O número de negros e mulatos livres cresceu bastante devido às alforrias. Os escravos que tinham mais chance de alforria eram os crioulos, pardos e as mulheres, cabendo aos africanos uma maior dificuldade.

QUILOMBOS E FUGAS

Os escravos nem foram heróis e nem vítimas o tempo todo, foi um pouco dos dois. De maneira geral, as fugas e os quilombos ocorriam com mais frequência quando os senhores retiravam dos escravos alguns benefícios e vantagens que eles já estavam acostumados, maus-tratos, fugas-reivindicatórias, que é uma espécie de greve em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Vários quilombos surgiram. Alguns eram quilombos abolicionistas, auxiliados por civis e autoridades que eram contra a escravidão e que demonstrava que a instituição escravocrata estava em declínio, sendo questionada no Parlamento, nas senzalas, nas ruas, nos comícios.

FESTAS E IRMANDADES NEGRAS NO BRASIL

O conjunto de práticas, saberes e memórias religiosas também atravessou o Atlântico nos navios negreiros, e aqui foi revivido e modificado pelos africanos de acordo com as condições do cativeiro.

As irmandades eram associações religiosas que permitiam aos negros se reunir de modo relativamente autônomo em torno da devoção a um santo católico. Espalhadas por diversas áreas do Brasil escravista do século XVII, as irmandades eram locais onde se criavam laços de solidariedade e ajuda mútua entre seus integrantes. Homens e mulheres, libertos e cativos, africanos, crioulos e mestiços podiam ingressar numa irmandade com o pagamento de uma determinada quantia.

Alguns senhores viam com desconfiança as festas dos negros. Temiam que elas fossem o momento adequado para a organização de revoltas. Outros achavam as festas uma boa oportunidade para que os escravos pudessem ter seus momentos de lazer. A Congada foi uma das maiores festas de devoção negra do Império. A festa começava com a eleição do rei e da rainha que, após serem coroados, saiam pelas ruas realizando desfiles, cantos e danças dramáticas.

A FAMÍLIA ESCRAVA

A sociedade escravista era complexa, tinha suas dinâmicas e possibilidades. Existem poucos estudos sobre os casamentos e formação de famílias escravas. Nas cidades os índices de casamentos entre escravos era baixo.

 

ESCRAVIDÃO E CIDADANIA NO BRASIL

Quando o Brasil se tornou independente, possuía uma das maiores populações de escravas das Américas. Na constituição de 1824, reconhecia-se como cidadão os libertos que adquiriram sua liberdade por qualquer título legítimo. Todos os nascidos ou naturalizados brasileiros eram considerados cidadãos e tinha direitos civis iguais, embora os direitos políticos fossem limitados a quem tivesse propriedades e uma boa renda anual.

 

1888: ABOLIÇÃO E ABOLICIONISMOS

Alguns eventos que ocorriam no mundo, além de outros que ocorriam dentro do país, influenciaram a abolição: a expansão dos movimentos antiescravistas e antitráfico que aconteceram na Europa desde o final do século XVIII; as revoltas de escravos no Caribe e a mobilização pela abolição de escravos na Inglaterra e sua pressão para que o Brasil findasse o tráfico africano.

Em 1831, a Inglaterra suspendeu o tráfico escravo no Brasil, embora a suspensão tenha sido constantemente desobedecida.

O grande número de escravos e de jovens africanos recém-escravizados representavam um “perigo africano”. Temia-se que os escravos se revoltassem e ameaçasse a ordem.

Em 1871, foi aprovada a Lei do Ventre Livre, que previa a libertação dos filhos nascidos de mãe escrava. O que antes era uma generosidade atribuída ao senhor agora era um direito assegurado pelo Estado.

Em 1885, foi decretada a Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos.

A partir da década de 1880 aumentaram os movimentos abolicionistas, quando pessoas de diversas camadas sociais lutaram para que houvesse a libertação dos escravos. Clubes e associações abolicionistas foram fundadas em várias cidades. Muitas arrecadavam dinheiro para alforriar escravos. Entre as lideranças abolicionistas estavam Joaquim Nabuco e os negros Luis Gama, José do Patrocínio e André Rebouças.

Em fevereiro de 1888, vários arros alegóricos em prol da liberdade desfilaram no carnaval do Rio, sendo aplaudidos e apoiados pelos foliões.

 

MOBILIZAÇÃO NEGRA NAS PRIMEIRAS DÉCADAS REPUBLICANAS

As teorias raciais foram difundidas a partir da segunda metade do século XIX no Brasil, como forma de inferiorizar os negros e justificar as desigualdades sociais, através de supostos argumentos biológicos e tidos como científicos e legítimos. Essas teorias contaram com muitas adesões no Brasil entre 1870 e 1930, sobretudo entre intelectuais, políticos, juristas e médicos. Para eles, o Brasil tinha que embranquecer a população, pois a grande quantidade de negros poderia arruinar o futuro do país. Alguns intelectuais defenderam a mestiçagem como forma de diminuir o número de negros. Autoridades do governo incentivaram a entrada de trabalhadores europeus. Por outro lado, essas teorias raciais também foram criticadas por muitos intelectuais.

Muitas negros que ficaram excluídos da sociedade agruparam-se em cortiços, que eram vistos por muitos com preconceito.

A partir de 1920, mas sobretudo na década de 1930, cresceu a aceitação de que o Brasil era uma democracia racial, um pais miscigenado, um lugar pacífico de raças em harmonia, principalmente por causa da obra “Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freyre. Entretanto, nos anos 1950, alguns estudiosos, como Florestan Fernandes, questionaram essas ideias, declarando o mito da democracia racial, pois as grandes desigualdades mostravam o preconceito e abandono em relação aos negros.

 

O MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL REPUBLICANO

O movimento negro ganhou muita força na sociedade brasileira a partir da década de 1970, que reivindicava a reavaliação do papel do negro na história do Brasil.

 

DIVERSIDADE CULTURAL REPARAÇÃO E DIREITOS

As reivindicações conquistaram direitos de reparação e direitos de memória, ou seja, valorização da cultura e história afro-brasileira e africana.

Em 1951, a Lei Afonso Arinos tornou o preconceito racial contravenção penal. A Constituição Federal reconheceu e procurou incentivar a valorização da diversidade étnica e cultural brasileira para fortalecer a democracia.

Os PCN`s, em 1996, reconheciam a pluralidade cultural como patrimônio. Em 2003, foi estabelecida as Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.

 

 

 

O Livro da Sua Vida, Osho




Em “O Livro da Sua Vida” (editora Cultrix, 230 páginas), Osho faz severas críticas às religiões organizadas, como o Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo, Budismo, etc, e incentiva o ser humano a cultivar uma religião própria, fruto de um mergulho em seu interior, reforçado pela consciência e meditação, como forma de se libertar de dogmas que limitam a vida. 

No prefácio o autor defende uma nova espiritualidade, baseada na rebelião individual, ao invés de uma revolução política, porque na primeira você muda a si mesmo para mudar o mundo, e a segunda, que é produzida pela sociedade, apenas dita regras para grupos sociais, mas não mudam o ser humano individualmente. Para ele, Jesus, Buda, Gandhi e Zaratuatra são exemplos de rebeldes. 
Cada capítulo do livro aborda os assuntos em forma de dicotomias: 

MUNDANO VERSUS EXTRAMUNDANO 
O Ocidente conheceu um progresso científico que tem ofuscado a religião, ao passo que o Oriente tem se mantido preso às religiões. O materialismo ocidental provocou uma crise espiritual no homem, e a religião no Oriente impede o crescimento do ser humano rumo à libertação dos dogmas. Osho propõe uma solução: que o homem seja “Zorba, o Buda”. O que isso significa? Zorba foi um grego devotado ao sensual, ao material, mundano. Buda negou este mundo material para se aprofundar espiritualmente, abandonando sua fortuna e partindo para uma jornada de simplicidade e limitações materiais. Osho defende que sejamos os dois ao mesmo tempo: aproveitar os prazeres da Terra e cuidar do lado espiritual, acabar com a divisão entre matéria e espírito. 

Para o autor, a religião passa por muitas fases. A primeira fase é a mágica, baseada em rituais mágicos de sacrifício para os deuses, como fazem os aborígenes primitivos. A segunda fase é a pseudo-religião: Hinduísmo, Cristianismo - elas mudam você através de dogmas, não é um ritual, é uma filosofia de vida. A repressão é usada como forma de controle, de escravização. O ser humano se divide entre bem e mal, proibido e permitido, condenam o sexo, a arte etc. A última é a religião científica, a verdadeira, que busca libertar o indivíduo.

Quando a pobreza exterior encontra a pobreza interior há um falso contentamento. Quando a riqueza exterior encontra riqueza interior há harmonia. Muitas religiões impõem uma vida de sacrifícios, de limitações, exaltam a pobreza como forma de o ser humano ser  recompensado na outra vida

CRENÇA VERSUS EXPERIÊNCIA 
A ciência explora o mundo objetivo e a religião explora o mundo subjetivo. Todas as religiões são contra a dúvida, porque a dúvida faz perguntas e busca respostas, e isso destrói as religiões, pois são baseadas em crenças. A verdadeira religião não exige fé, exige vivência. A fé é o suicídio da inteligência.  O autor critica os condicionamentos que a sociedade impõe as crianças. 

LÍDER VERSUS SEGUIDOR
Os líderes religiosos têm poder sobre os homens porque representam Deus. Eliminando Deus e as religiões os homens passam a ser livres. Mas ao eliminá-los, fica um vazio, e esse vazio deve ser preenchido com a verdadeira religião, usando o consciente e a meditação. Há muita hipocrisia entre religiosos. Muitos se apegam à religião para serem bem vistos diante da sociedade, serem aceitos por uma grande comunidade. 

CONSCIÊNCIA VERSUS VOZ DA CONSCIÊNCIA 
A voz da consciência é uma fotografia, e a consciência é um espelho que sempre muda o que reflete. A voz da consciência é o que a sociedade impõe, a consciência vem de dentro de você. A voz da consciência divide, a consciência une. A meditação é uma maneira de descartar a voz da consciência e mergulhar na consciência. A religião divide o homem para amedrontá-lo e escravizá-lo. 
Osho fala sobre a diferença entre controle e disciplina. O primeiro é imposto pela força, leis, dogmas, a disciplina é fruto de um interior consciente, organizado. Devemos produzir respostas ao invés de reação, porque a reação é condicionada, mecânica, e a resposta é sempre espontânea e muda de contexto. 

SIGNIFICADO E SIGNIFICÂNCIA 
 A vida não tem significado, a pessoa tem de criá-lo. As religiões dão um significado à vida e isso conforma o homem. Mas ao abandonar a crença, para não ficar desesperado, o homem precisa buscar um sentido, uma confiança que só seu interior consciente pode fornecer. 
Grandes intelectuais como Feuerbach, Nietzsche, Marx e outros combateram as religiões, mas eles não se aprofundaram interiormente, vivendo, desse modo, em desespero.

MINHA OPINIÃO 
Gostei de algumas críticas que ele faz sobre as religiões, sobre a hipocrisia de muitos religiosos, sobre os condicionamentos que nos aprisionam. Tenho buscado uma espiritualidade interior que eu possa conciliar com meu lado cristão, uma forma de eu manter minha fé mas ao mesmo tempo buscar viver uma vida que me permita ter dúvidas, buscar respostas, não me limitar a certos dogmas. O livro me despertou mais interesse ainda na busca do meu lado interior, em uma espiritualidade consciente e natural. Discordo de muitos pontos do autor ao longo da obra. Em alguns momentos demonstra conhecimento superficial, redundante em alguns trechos e muitas generalizações que empobrecem certas explicações. Usarei algumas dicas para melhorar minha espiritualidade mas de forma a se harmonizar com meu lado cristão. O autor provoca reflexões, mas não me convenceu a abandonar minha religião.
(Wennes Mota)

O BANQUETE, de Platão

 


 


Escrito em forma de diálogos, narra um banquete realizado na casa de Agatão, tendo como convidados Fedro, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes, Sócrates e Alcebíades. Todos discursam sobre o Amor. Os discursos deles, contrariando o que eu estava esperando, é fortemente influenciado pela religião – mitologia grega, além de referência de grandes nomes, como Homero.

A narrativa começa com Apolodoro caminhando em direção à cidade, quando é interrompido por um companheiro, que lhe pergunta sobre os discursos que foram proferidos no banquete de Agatão, ao que Apolodoro responde dizendo que o banquete fora realizado há muito tempo, e que ficara sabendo dos detalhes através de Aristodemo, que fora ao banquete acompanhado de Sócrates. Segue abaixo um resumo dos discursos de cada um sobre o Amor.

Fedro – O amor é um grande deus, admirado entre os homens e os deuses e, sendo o mais antigo dentre eles, é a causa dos maiores bens. Sem o amor, que implica vergonha do que é feio e apreço do que é belo, não é possível à cidade e nem ao indivíduo produzir grandes e belas obras. “(...) ninguém há tão ruim que o próprio Amor não o torne inspirado para a virtude, a ponto de ficar ele semelhante ao mais generoso de natureza”.

Pausânias – defende que há dois amores por haver duas deusas: Urânia, a celestial e Pandêmia, a popular. Toda ação em si não é bela e nem feia, o que a torna uma ou outra coisa é a prática, dessa forma, o amar e o amor só são belos quando praticados. Os homens vulgares amam o amor de Afrodite Pandêmia, que amam mais o corpo do que a alma, tudo em vista apenas efetuar o ato, não importando se é decente ou não. Em sua geração participa o macho e a fêmea. No amor de Urânia, participa apenas o macho – o amor aos jovens. Urânia é mais velha e isenta de violência. Os que se dedicam a esse amor apreciam o que é másculo, afeiçoando-se à natureza do mais forte e mais inteligente. Amam o jovem no sentido de educá-lo, e não ludibriá-lo em sua inocência, usando-o para depois ir em busca de outro. Esse amor pelo jovem não é em si nem belo e nem feio; se decentemente praticado, é belo, se indecente, feio. É feio deixar-se conquistar, sem o devido tempo, já que é prova de amor, bem como o deixar-se conquistar pelo dinheiro  e pelo prestígio político, pois são constantes e não produzem amizades nobres. O aquiescer o amado ao amante é belo quando o objetivo é a contribuição para a sabedoria e demais virtudes.

Erixímaco – elogia o discurso de Pausânias, mas declara que faltou um remate, o que se propõe a fazer. Como prático em medicina, ele estende o amor não apenas aos homens, mas a todos os seres vivos. Defende o amor como sendo duplo: um sadio e um mórbido. Deve-se combinar os dois em todas as artes para conservar o amor. O amor com sabedoria e justiça nos traz felicidade e amizade.

Aristófanes – concorda com Erixímaco e Pausânias sobre ser o Amor o deus mais antigo, mas diferentemente dos dois, defende a existência de três gêneros da natureza humana, ao invés de dois: o masculino, o feminino e o andrógino. Antigamente o ser humano era andrógino, possuindo quatro braços, quatro mãos, quatro pernas, duas cabeças. Voltando-se eles contra os deuses, Zeus os pune dividindo os andróginos para enfraquecê-los, cada um agora andando sobre duas pernas. Coube a Apolo fazer as reparações depois das mutilações que dividiram os corpos. Divididos, homens e mulheres tentavam se unir novamente e acabavam morrendo. Zeus então lhes dão sexos para que possam procriar e se unirem. O amor é o restaurador de nossa antiga natureza em sua tentativa de fazer um só de dois e de se curar a natureza humana. Nossa antiga natureza era formada por um só, éramos um todo, o amor é o desejo e a procura do todo. Seríamos uma raça mais feliz se voltássemos para nossa antiga natureza.

Agatão – diz que os discursos anteriores procuraram elogiar os homens pelos bens advindos do deus, e não a ele, então decide discorrer sobre sua natureza. O Amor é o deus mais feliz e mais belo. Discorda de Fedro que o Amor seja o deus mais antigo, ao contrário, considera-o o mais jovem, pois o amor está na juventude. É um poeta e sábio. Todos os deuses buscam no amor suas realizações, por ele são guiados. Antes dele havia desentendimento entre os deuses, de pois dele belas coisas surgiram para deuses e os homens.

Sócrates – Ao contrário de todos os outros anteriores, Sócrates não apenas discursa, ele utiliza a ironia e a maiêutica para interrogar Agatão e chegarem a um conhecimento novo. Ao interrogá-lo, Agatão reconhece que pouco sabe sobre o assunto. Sócrates, antes, pensava como o amigo, mas declara que fora convencido por uma mulher chamada Diotima, a quem atribui um grande conhecimento sobre o amor. A partir daí cita o discurso de Diotima. Defende a ideia de que o Amor não é um deus, pois não sendo belo e nem bom, não se encontra nos extremos, mas sim no centro. É ao mesmo tempo mortal e imortal, um grande gênio, porque fica entre um deus e um mortal. O Amor é filho da Pobreza e do Recurso, que dormiram juntos no dia do nascimento de Afrodite. O amor é filósofo, está entre sábio e ignorante, pois é filho de pai rico e sábio e mãe não sábia e pobre. Quem ama quer ter o bem sempre consigo.

Por último, Alcebíades entra embriagado e discursa elogiando Sócrates, alegando que, apesar de tentar ser amante do grande filósofo no sentido de obter instrução, sua juventude e beleza nunca fizeram Sócrates se entregar a ele, pois Sócrates nunca se deixou levar pelo corpo e pelo dinheiro.

Como se pode observar, a obra é fortemente ligada à religião. Considero alguns pontos interessantes, mas na maior parte achei os discursos limitados à mitologia. De qualquer forma, não superando minhas expectativas, é um livro que retrata os conhecimentos e crenças da época em que foi escrito.

(Wennes Mota)