O livro é simples, sintético, conciso, reflexivo. Dividido em sete capítulos. Cada capítulo é introduzido por uma pergunta do autor, Rafael Arrais, e respondidas por dois entrevistados com opiniões diferentes, são eles: Alfredo Carvalho, engenheiro civil e servidor público federal, defensor da Direita. Da outra parte temos Igor Teo, autor de dois livros e defensor da linha Esquerda. O livro finaliza com comentários do autor sobre os assuntos abordados. Farei uma síntese de cada um em relação a cada capítulo.
Capítulo 1: O que são, afinal, a Direita e a Esquerda?
Teo menciona instituições e faz a distinção entre o instituído, quando uma determinada ideia está bem consolidada, amplamente aceita e executada e o instituinte, quando uma nova ideia deseja substituir a anterior. Ao assumir o lugar principal na sociedade, a burguesia instituiu o capitalismo, e a Direita defende essa ordem capitalista instituída, ao passo que a Esquerda procura combatê-la ou pelo menos, usá-la para diminuir as desigualdades sociais. Dessa forma, ser de Direita é defender o capitalismo e suas instituições. Ser de esquerda é perceber os direitos dos trabalhadores, dos negros, das mulheres, dos homossexuais, dos pobres. Ter um olhar mais humano em relação às minorias. É perceber que as promessas do capitalismo são falsas porque elas trazem consigo lucro para poucos, enquanto exploram a maioria da população, segrega pessoas. As desigualdades promovidas pelo capitalismo aumentam a violência e criminalidade, cria favorecidos e por outra lado segregados.
Para Carvalho,a divisão de esquerda e direita remonta na organização dos grupos na Assembléia dos Estados Gerais, que distingue dois movimentos políticos: conservadores e revolucionários. Segundo ele, as ideologias conservadoras são aquelas que se legitimam com base na experiência do passado, enquanto as revolucionárias o fazem em nomes das perspectivas de futuro.
Carvalho critica a esquerda no sentido de que ela se apoia em ideologias revolucionárias que prometem um futuro de igualdade, ideias abstratas, utópicas, e os grupos desfavorecidos se sentem tentados a buscarem esses ideias que na prática a história tem mostrado que não funcionam.
Capitulo 2: Como Trazer as ideologias de Volta à Politica?
Carvalho condena a interferência do Estado na economia no sentido de favorecer algumas grandes empresas pois isso acaba criando um vínculo mutuo entre ambas em um projeto de desenvolvimento forçado. Menciona como uma das saídas para o problema o fim do financiamento privado, pois esse cria laços entre mercado e governo, colocando bem maior como segundo plano. Além disso, defende a reforma política.
Teo fala de ideologia e assim como Carvalho, defende o fim do financiamento privado, bem como limitar o financiamento público das campanhas, maior fiscalização, direitos iguais para todos os partidos.
Capítulo 3: Qual é a melhor reforma fiscal?
Carvalho sugere descentralização, eficiência e paciência. Já que não se pode diminuir os impostos e tributações, que pelo menos simplifique as leis e a organização para que fique mais fácil de as empresas lidarem com a burocracia.
Teo faz uma análise das nossas desigualdades, mostrando que os 1% mais ricos do país detêm mais da metade das riquezas do país. Defende a importância do Estado como defensor dos explorados e mais vulneráveis frente ao capital selvagem. Sugere maior tributação dos mais ricos para distribuir melhor a renda.
Capitulo 4: Como blindar a democracia dos projetos de poder?
Cavalho critica o apelo aos conceitos abstratos e utópicos em detrimento dos práticos. Muitas ideias revolucionárias podem trazer instabilidades e uma dificuldade ou impossibilidade de colocar em prática ideias abstratas, o que pode acabar levando determinado governo ao autoritarismo e o totalitarismo. Defende o conservadorismo para frear receitas fáceis e ilusórias que podem levar lunáticos ao poder.
Teo critica a democracia liberal que se mostra a salvadora, usa promessas ideológicas de felicidade através do capital e do consumo, mas que promovem desigualdades sociais, mortalidade, miséria. As pessoas são vistas pelo que possui. Se você não faz parte do ideal de felicidade consumista, se não tem como participar, é descartado.
Capítulo 5: É viável tornar o capitalismo sustentável?
Carvalho reconhece falhas no capitalismo, contradições internas que comprometem o ordem moral e institucional, porém o defende como a melhor opção capaz de gerar prosperidade econômica e social. Acredita que seja viável um capitalismo sustentável, alegando que quanto maior o progresso, mais recursos e tecnologias há para proteger o meio ambiente e cita exemplos concretos de países ricos onde o capitalismo protege o meio ambiente. O capitalismo cria soluções para muitos problemas, mas é apenas consumismo.
Teo acusa o capitalismo de acumulação, de produzir desigualdades, consumismo e exploração dos recursos humanos e naturais. Segundo ele, tentar tornar o capitalismo sustentável leva-o ao fracasso. O capitalismo vende a promessa de felicidade. Porém, quando se consegue comprar o produto desejado, a falta permanece. Compramos um produto por um imaginário de felicidade nele embutido. Isso pode causar problemas emocionais em muitos, porque pode levar a vícios, e quem não tem dinheiro para comprar se sente fracassado, impotente. Teo não acredita na sustentabilidade do capitalismo, alegando que se trata apenas de uma máscara para conquistar o consumidor de que os produtos ajudam o meio ambiente e promovem responsabilidade social.
Capítulo 7: A quem interessa a polarização entre PT e PSDB?
Teo diz que o PT e o PSDB são partido mais de centro, com o primeiro pendendo para a esquerda e o segundo para a direita. Declara que o PT trouxe várias conquistas, mas que, para implantar suas políticas sociais, aliou-se aos inimigos, se vendeu ao instituído. Alega que o PMDB é um partido que age de acordo com as conveniências para estar junto ao poder. Defende uma linha de pensamento onde o melhor para o país seja um governo que promova mudanças radicais em áreas de problemas estruturais, como seria implementado por João Goulart com suas reformas de base, projeto abortado pela Ditadura Militar.
Carvalho considera normal essa polarização em uma democracia, e diz, em tom de crítica, que quem ganha nessa polarização entre PT e PSDB é a esquerda, pois ambos são de esquerda, o primeiro mais estatista e controlador que o segundo.
7. Os comentários
Aqui o autor dá sua opinião, mantendo uma visão imparcial, ora criticando ambos os lados, ora elogiando e reconhecendo que um precisa do outro. Mostra-se contra as doações de empresas a campanhas eleitorais, é a favor de uma maior taxação dos mais ricos e faz uma análise dos casos dos Estados Unidos e da China, de um lado, um país democrático que respeita as liberdades individuais (embora tenha-se descoberto casos de espionagem na internet) e livre mercado, em oposição ao comunismo (com economia capitalista), interferência do Estado na economia e limitação das liberdades. Em todo caso, a política deve evitar de se tornar um grande negócio para se tornar a atividade pela qual se busca ideias para uma vida mais justa.
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