O ABOLICIONISMO, de Joaquim Nabuco

 



 

Em “O Abolicionismo”, Joaquim Nabuco faz severas críticas ao sistema escravagista, defende a libertação dos escravos o mais rápido possível, ao invés de forma gradual que apenas prolongava esse mal, mostra as consequências negativas graves dos séculos de escravidão para o país e para o povo.

O livro foi escrito em 1883, ou seja, ainda sob o efeito da lei de 1871, a Lei do Ventre Livre, o qual ele critica, pois por esta lei, apesar de todos os nascidos a partir de então serem considerados livres, eles ficavam presos aos seus senhores até os 21 anos.

Analisa todos os processos em relação às várias leis de libertação gradual dos escravos ao longo do século XIX, apontando o seu não cumprimento ou suas falhas. Como exemplo, temos a lei de 1831, onde a Inglaterra havia abolido o tráfico negreiro, mas as autoridades brasileiras agiam de forma negligente ao não punir severamente os traficantes que intensificaram a busca por escravos. Em tese, a partir dessa lei, todos os escravos que entravam em território nacional eram considerados livres, mas na prática isso não ocorria.

Em 1850, houve uma lei reforçando o fim do tráfico de escravos. A lei seguinte em favor dos escravos, a de 1871, tornavam livres os nascidos a partir daquela data, mas como vimos, não era de fato o que realmente acontecia.

Joaquim Nabuco defende o abolicionismo, o qual era severamente criticado por seus adversários, que acusavam aqueles de serem contra a pátria, contra os verdadeiramente brasileiros possuidores de riquezas e moral. Nabuco exalta os abolicionistas alegando que estes estão preocupados com o futuro do país, e que pelo contrário, são patriotas e querem ver a lavoura progredindo, pois o trabalho livre promove maior desenvolvimento do que o escravo. Os abolicionistas não atacam os senhores e nem suas propriedades, mas sim o sistema escravagista.

A escravidão, para Nabuco e os abolicionistas, corrompe as virtudes da nação, empobrece o solo com práticas arcaicas, impede a vinda de imigrantes livres, atrasa o desenvolvimento da indústria e do comércio, prende as cidades no atraso e promove um frágil enriquecimento, pois logo em seguida, geralmente, vem a bancarrota. Faz analogias com as colônias do sul dos Estados Unidos, seu consequente crescimento após a abolição da escravatura.

Abolir a escravidão não deveria ser o fim da luta por um país mais justo e humano. Para o eminente político e intelectual autor, dever-se-ia educar os libertos e integrá-los à sociedade para se apagarem ou diminuírem os efeitos de séculos de escravidão.

Uma leitura agradável, enriquecedora, pois, afinal de contas, ainda vivemos presos às consequências negativas da escravidão.

(Wennes Mota)

MINHA FORMAÇÃO, de Joaquim Nabuco

 



 

Em “Minha Formação”, Joaquim Nabuco narra os eventos mais importantes de sua vida, suas referências, influências intelectuais, experiências no exterior, contatos com pessoas poderosas e contribuição para a política brasileira.

Joaquim Nabuco foi um dos maiores defensores da abolição da escravatura, usou seu poder como deputado para defender a causa. Liberal, cosmopolita, intelectual e preocupado com o país, não hesitou em criticar a estrutura socio-econômica da qual era beneficiado.

Suas experiências no exterior reforçaram seus ideais políticos. Mantivera contato com pessoas poderosas e influentes em diversos país como Inglaterra, França (1873-1874),  Estados Unidos (1876-1877), além de ter tido um encontro com o papa Leão XIII, em 1888, no Vaticano, pedindo apoio para a libertação dos escravos, visto que o poder da maior autoridade da religião católica entre os católicos era incontestável.

Nabuco foi um político brilhante, de ideias, que percorria o mundo em busca de conhecimentos para que pudesse aplicá-los no Brasil. Esteve sempre em defesa dos escravos, o que considera sua maior contribuição para o país. Declarava que o Brasil continuaria a ter uma herança negativa da escravidão como caraterística nacional por muito tempo.

Erudito, de apreciador da literatura e das artes, passou para o ato criativo, chegando a escrever um livro de poemas em francês, “Amour et Dieu”,  língua que considerava a sua fonte de cultura. Apesar de elogiado por alguns sábios da França, Nabuco reconhecia suas deficiências nas artes. Seu interesse pela política era de um caráter universal e humanitário. Gostava das boas discussões que visavam solucionar os problemas, e detestava as paixões políticas partidárias e de conveniências que atrasavam o país.

Foi um político atuante e sábio que conquistou liberais e conservadores, e que até hoje conquista adeptos da esquerda e da direita. Essa versatilidade se dá por causa de sua postura de revolucionário conversador, a união de vários traços políticos, sem se prender a um lado de forma radical. Como liberal, era defensor da libertação dos escravos, a distribuição de terras, a integração do negro na sociedade. Seu lado conservador era notório pela sua defesa da monarquia parlamentarista e das instituições sociais que funcionavam e garantiam ordem. Para ele, a conquista de liberdades deveria ser para o bem estar comum e não para estabelecer anarquia, portanto, qualquer ato de mudança no sentido liberal deveria ser sensato.

Sua maior referência política foi Bagehot, cuja obra “A Constituição Inglesa’ se trata de uma defesa da constituição e da monarquia inglesas. Em sua mocidade via tanto a monarquia quanto o republicanismo com bons olhos até resolver visitar a Inglaterra, para analisar o sistema político de lá, e os Estados Unidos, para conferir de perto o republicanismo, tão debatido na época. Essas experiências lhe reforçaram ainda mais a sua defesa da monarquia, por causa da estabilidade e do respeito de que gozavam as instituições da monarquia inglesa, ao passo que o republicanismo nos Estados Unidos causa confusões e divisões a cada quatro anos, além de instituições não tão sólidas como as da Inglaterra.

Foi um grande admirador da cultura francesa, da rigidez inglesa e do progresso, liberdade e superioridade material dos americanos. Sua carreira política, como parlamentar ocorreu entre 1879 a 1889.

Nabuco cita vários amigos e parlamentares importantes na luta pela abolição, como André Rebouças e Gusmão Lobo. Tece elogios ao seu pai, grande influência política em sua vida, o barão de Tautphoeus, um estrangeiro intelectual, apaixonado pela natureza brasileira. Narra acontecimentos de sua infância na fazenda Massangana, onde cultivou os sentimentos fraternos para com os escravos, semente de sua luta política.

Impossível terminar de ler o livro e não se tornar um grande admirador desse cidadão, político e intelectual brasileiro. Alimentamos o desejo de reavaliar a nossa própria formação, as nossas referências intelectuais, as nossas atitudes como brasileiros e a esperança de encontrarmos políticos com esse caráter, erudição, sapiência e espírito humanitário, bem como cidadãos que admirem e valorizem tais qualidades em um homem público. Com bons políticos, que amam o país, e não apenas presos às conveniências políticas, aos interesses próprios e ao ego, e cidadãos críticos que não vendem sua consciência poderemos ter um Brasil realmente mais justo e mais livre. Vivam os Nabucos da vida e que eles se multipliquem por este vasto território!

(Wennes Mota)

AS VÍTIMAS ALGOZES, de Joaquim Manoel de Macedo

 




Em “As Vítimas Algozes”, Joaquim Manoel de Macedo condena a escravidão, mostrando seus efeitos maléficos para a sociedade.

A obra é dividida em três partes, três estórias diferentes, mas cada uma tendo personagens escravos como principais e sendo vitimas e ao mesmo tempo algozes, como é bem definido pelo título.

A escravidão é denunciada como uma atividade desumana e aviltante que produz, na maioria dos escravos, ódio e sede de vingança. Segundo o autor, não se pode esperar bondade e gratidão por parte do escravo, por mais que não seja tratado como violência, por mais que tenha patrões “bondosos”, o simples fato de ser escravo, de não ter direitos, de estar preso a trabalhos estafantes e não ter a dignidade de um cidadão, são raros os escravos que não se revoltam com sua condição degradante.

Ao longo da obra o autor deixa claro, e repete, como lição de moral, e ainda contendo cada uma conclusão bem explícita onde se condena a escravidão e a exposição dos motivos para tais condenações. Essa obra servia como alerta para mostrar para os senhores brancos e a sociedade os perigos que corriam por insistirem na escravidão. Libertar os escravos seria a melhor forma de se evitar grandes infortúnios e desastres como os que são narrados nesse romance bem escrito e de denúncia social. Leitura prazerosa e reflexiva. Personagens bem escritos, coerentes e convincentes. Prepare-se, você vai odiar Lucinda e vai sentir pena e ao mesmo tempo raiva de Cândida. Segue abaixo um resumo das três estórias do livro.

I – Simeão, o Crioulo

Simeão é um escravo que cresce sendo favorecido pelos seus senhores, Domingos Caetano e Angélica, criado e amado como um filho durante a infância. Isso porque, ao nascer Florinda, filha dos senhores, não podendo Angélica amamentá-la, conta com os peitos de uma escrava, que também tivera filho, Simeão, há pouco tempo, amamentando assim, os dois, que se tornam irmãos colaços (de leite). Poucos anos depois com a morte da escrava, os senhores passam a cuidar de Simeão como filho.

Mas quando Simeão chega à adolescência percebe-se como escravo. Por mais que tenha sido bem tratado pelos seus donos, continua sendo escravo. Muitos escravos jogavam isso em sua cara, aumentando-lhe a cólera.

Em uma venda perto a fazenda, onde se encontram escravos, ex-escravos e vadios, Simeão conhece um bandido, conhecido como Barbudo, e nasce entre eles uma amizade leal.

Florinda casa-se com Hermano, filho do lavrador vizinho. Com a morte de Domingos Caetano, tencionando ganhar a liberdade e roubar o dinheiro da família, Simeão arma uma emboscada em casa e, com a ajuda de Barbudo e outros capangas, matam todos da casa. A lição é: por mais que se trata bem um escravo ele pode se voltar contra os senhores, e estes não o podem acusar de ingrato, porque a escravidão em si é a culpada por produzir ódio e vingança.

 

II – Pai-Raiol, o Feiticeiro

Muitos escravos conheciam raízes, folhas e plantas alucinógenas e venenosas que, juntamente com rituais tribais, se aproveitavam desses conhecimentos para se declararem feiticeiros, como forma de amedrontar muitas pessoas e conquistarem um certo prestígio.

Pai-Raiol é um escravo feio, fisicamente deformado. Mostra-se inofensivo, calado e trabalhador, mas que provoca grandes estragos por onde passa. Ele e sua companheira, a crioula Esméria, a quem tem como amante por medo e conveniência, são comprados por Paulo Borges.

Pai-Raiol mata vários animais envenenados e chega a atear fogo na plantação e em todas essas ocasiões ele apresentava soluções que o tornavam valorizado aos olhos do seu senhor.

Esméria é convidada para trabalhar na cozinha a pedido de dona Teresa, esposa de Paulo Borges. O feiticeiro convence Esméria a seduzir o senhor, o que o faz e em pouco tempo toma o lugar da senhora, passando a tratar suas ex-companheiras escravas como inferiores.

Esméria, profundamente decepcionada, passa a viver apenas para os três filhos, passando o dia e a noite trancada em um cômodo para não ver o marido e escrava traiçoeira. O feiticeiro então convence Esméria a envenenar aos poucos a comida de Teresa, que e pouco tempo morre envenenada. Tempos depois, o envenenamento também leva os filhos para a morte e a ruina da família de Paulo Borges.

Pai-Raiol ordena a Esméria que mate o senhor também, mas esta, conhecendo os planos do feiticeiro, sabendo que ele queria comandar a fazenda ao seu lado, controla-la, decide contar com a ajuda do tio Alberto, um escravo alto e musculoso como Hércules, com quem Esméria també mante um romance ardente, para assassinar Pai-Raiol.

Esméria, ao maltratar uma criada, esta, vinga-se daquela revelando todas as suas maldades para o senhor Paulo Borges. Tomando conhecimento da emboscada que Esméria e o tio Alberto estavam preparando para matar o feiticeiro, Paulo Borges, com o auxílio da criada, assistem ao assassinato às escondidas. Por fim, ordena que capangas prendam Esméria. A lição de moral é: enquanto houver escravidão haverá escravas para se oferecer para o senhor e destruir o lar.

 

III – Lucinda, a Mucama

Florêncio da Silva é um rico comerciante, esposo de Leonídia e pai de Liberato e Cândida. Plácido Rodrigues é um rico fazendeiro, cujo filho, Frederico, fora amamentado por Leonídia, já que sua mãe havia morrido de parto. A amizade dos pais era unida ainda mais pelos laços quase familiares. Frederico e Liberato são os melhores amigos, estudaram juntos a vida inteira e cultivam uma amizade com amor fraterno. Frederico é irmão de leite de Cândida. As duas famílias são a favor da união entre os irmãos de leite.

Cândida, infelizmente, ganha de presente de seu padrinho, Plácido Rodrigues, Lucinda, uma mucama perversa que, com suas opiniões vis, maldosas e pérfidas opiniões, corrompe a pureza da pobre moça.

Lucinda incentiva Cândida a ter namorados antes do casamento, e a ajuda a ter um relacionamento escandaloso, as escondidas, com um francês, que no final se revela um sujeito criminoso e pobre.

Por sorte, a reputação de Cândida, que havia perdido a virgindade para o francês, só é salva por casa da bondade e do amor de Frederico, que a aceita como esposa. Lição de moral: uma mucama escrava pode arrastar para a lama a reputação de uma senhora-moça.